segunda-feira, 4 de abril de 2016

Do Leicester á MLS e do Portugal dos Pequeninos... o futebol mudou...



Está a acontecer o impensável na Liga Inglesa, um clube de um tamanho mediano em Inglaterra, promovido à duas épocas ao escalão principal e que ainda no ano passado lutava pela manutenção, está a 11 pontos (em 18) de se tornar campeão de Inglaterra. Não era previsivel que um clube desse tamanho pudesse arrecadar o titulo da poderosa Premier League e conquistar um lugar no Pote I da Fase de Grupos da Champions League. Como é que isto foi acontecer?

Antes de mais, parto desde já da assumpção que os leitores sabem que o clube foi comprado em 2010 por um fundo asiático e que o investimento anunciado seria de 180 milhões de libras (224 Milhões de Euros) em 3 anos (74 Milhões de Euros por época) e que na primeira época apenas foi investido cerca de 18 milhões de Libras. O orçamento médio do FC Porto ou do Benfica ronda os 90 Milhões de Euros por época.

Com base nestes valores seria então de esperar que um clube chegasse tão longe na Premier? Só o Chelsea tem um orçamento de 215M Libras só para ordenados para 2015/2016 e no entanto dificilmente estará sequer nas competições europeias do proximo ano. E que relação podemos fazer deste campeonato para um campeonato tão pequeno como a Liga NOS?

Precisamos de olhar para outras diferenças para percebermos este fenómeno e não apenas para o campo financeiro (deixamos esse para outros artigos). E voltamos ao tema da equidade e da verdade desportiva, e não aquela que o Rui Santos e o Sporting andam sempre a chorar, mas daquela a sério, da que existe em campeonatos que olham para o futebol de outra forma.

Ainda na Inglaterra, o campeão inglês a partir da próxima época (graças ao novo acordo colectivo de direitos) recebe 146M Libras, sendo que o ultimo classificado recebe 97M Libras. A equidade dita que que 1700 Milhões Libras são distribuidos a todas as equipas por igual (85Milhões por equipa) e apenas o restante seja relacionado com a posição do campeonato. Na MLS a exposição é diferente e opta-se por limitar o investimento das equipas, o que torna o campeonato mais competitivo e deixando cair a ideia que devem existir 2 a 3 clubes grandes e o resto a limitar-se a sobreviver. Lembrar que em 20 edições, já se conheceram 10 campeões diferentes.

Em Portugal, os campeonatos tendem a ser mais do mesmo. Os clubes ditos grandes (que passam a vida a reclamar de arbitragens) são sem dúvida alguma protegidos pelas arbitragens que tanto reclamam. O futebol europeu (fora os campeonatos mais a norte) pecam pelo mesmo problema que toda a Europa está a atravessar. Vivem num sistema de corrupção e de beneficios relacionados com negociatas obscuras. SEM EXCEPÇÃO! Porto, Sporting e Benfica são constantemente utilizados por presidentes, amigos, directores e agentes para enriquecimentos ilicitos e o futebol pouco tem de real sobre o valor das equipas. Ganha quem interessa em determinada altura. Os ciclos provam isso. E não se enganem, está a começar o ciclo do Benfica...

Os ciclos garantem que estes clubes não perdem a hegemonia e que não se vão perdendo campeonatos para clubes mais pequenos que possam vir a crescer. Não interessa a quem ganha dinheiro com isso. E torna-se evidente isto quando se sai de Portugal... fora um milagre de conjugação de resultados vs opositores se consegue um campeonato europeu. Mesmo na Liga Europa se perde com adversários medianos de outros paises.

Hoje, os clubes que mais falam em necessidade de uma Liga Europeia (Superliga) são aqueles que tem algum receio que o que está a acontecer em Inglaterra possa vir a contagiar os seus países. Querem que seja o nome e o simbolo e não o valor dentro de campo a ter influencia nos clubes que devem estar presentes nas competições multimilionárias, por temerem que isso traga mais força aos clubes. E não se trata de dinheiro, porque 70/80 Milhoes de Euros no orçamento global de um clube inglês ou alemão são "peaners". O que se teme é que a visibilidade dada a estes clubes inverta a ideia de que só vale a pena ser adepto de um grande e que os Bragas, os Belenenses ou os Guimarães de cá e de lá tem que ser apenas o 2º clube do Adepto. Isso tende a mudar... e o Leicester faz esses clubes acreditar que é possivel.

Para quem como eu é adepto do FC Porto, sabe que o Porto se tornou um grande apenas à 30/40 anos, pelo menos a nivel de titulos e de prestigio europeu. O Benfica está a ganhar alguma força agora (e que eu pessoalmente acho que está a iniciar um ciclo) e lá fora vive do prestigio de outros tempos. O Sporting é um grande em Portugal, mas pouca expressão tem no panorama europeu.

Então e porque é que o Real Madrid, o Barcelona, o PSG ou o Bayern (que também são os grandes) tem outros resultados? Porque o mercado é exponecialmente maior e as receitas são "per si" são enormes e permitem outros voos. Mas o receio de um "Leicester" nos seus campeonatos começa a aparecer.

O futebol tem que aprender tanto com a MLS (e a Premier League) sobre transparência como a MLS tem a evoluir com a Europa em como jogar futebol. A abertura do mercado de apostas desportivas em Portugal (em larga escala) vai tornar mais dificil o constante "assalto á mão armada" aos clubes pequenos e obrigar a profissionalização da administração e da arbitragem em Portugal e talvez um "Leicester" português seja o primeiro na europa a dizer que o tempo dos caciques tem que acabar.

terça-feira, 15 de março de 2016

100 dias de governonça (Governo ou Gerigonça)

Quando a coligação que actualmente governa o nosso país foi anunciada, foi por alguns apelidada de Geringonça, por outros de ilegal e disfuncional, outros chamaram-lhe o maior avanço da politica em Portugal.

Eu, cidadão eleitor que nunca falhou uma eleição, que também não se agarra a uma cor politica e que já militou nas esquerdas mais à esquerda até ao apoio a algumas ideias de direita, tinha por ideia que esta podia ser realmente a maior inovação na politica portuguesa de sempre, Finalmente elegíamos deputados e não primeiros ministros. E a coisa até podia resultar... mas a esquerda vai ser sempre esquerda e a direita sempre direita.

O que se esperava com este novo figurino era a maior responsabilidade de quem foi eleito, de que os entendimentos entre todos pudessem surgir e que o melhor de cada um contribuísse para um país melhor e que as mordomias e os "jobs" acabassem por ser controlados nesta esfera de múltiplos interesses.

Ao fim de 100 dias de governação de esquerda e de reclamações da direita, os factos acabam por comprovar que todos tinham razão e que ninguém a tinha. Senão observemos a coisa com mais calma e a frio.

Do programa eleitoral do PS pouca coisa se salva. A ideia da TSU fica na gaveta, a descida do iva na restauração foi mais ou menos a meio gás, o não aumentar impostos foi sol de pouca dura e os maiores beneficiados com a subida do PS ao poder foram os funcionários públicos que recuperaram algum poder de compra e as 35 horas (é o que parece). Aos outros, o que se deu tirou-se com o valor dos impostos em combustíveis... sim, num depósito de 60 litros são 4 Eur a mais...

Do programa do PCP e do BE também se salva pouca coisa, ganharam a batalha dos funcionários públicos, mas foram amplamente derrotados na politica externa e nos impostos que vão acabar por comer o que pouco se deu.

O PSD também tinha na gaveta um sem numero de ideias, mas que dificilmente divergiam de gastar mais e cobrar mais... O CDS nem sei bem se tinha ideias...

Então quem é que ganhou com isto tudo?

O PAN. Sim, aquele individuo simpático que se senta sozinho lá no Parlamento viu ser aprovado o desconto em IRS das despesas de veterinário, o aumento de politicas de defesa dos animais e ainda dá umas opiniões para a economia social.

Se calhar, deviamos ter dado mais uns votos a essa rapaziada...

De notar que o CDS parece agora querer chegar a entendimentos em alguns pontos (a do Governador do BP é essencial) mas que pode levar a uma revisão mais alargada da constituição.

Agora, prevendo o futuro... o PC vai roer a corda... e a coisa não aguenta uma legislatura... e o mais triste é que acho que vamos voltar ás maiorias, daquelas que elegem primeiros-ministros e não deputados... e lá volta tudo ao mesmo.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Será que é possível tirar o Paulo Portas do PP?



Ao contrário de muito português, segui com atenção o congresso deste fim de semana do CDS-PP.

É um daqueles partidos que eu sempre identifiquei como não tendo identificação alguma...

Um partido que nasceu de centro-direita, defensor da democracia-cristã, conservador e liberalista. Centro Democrático Social na sua génese, defenderia a justiça social, a família e os valores mais conservadores, defendendo uma diminuta intervenção do estado na economia e na sociedade e dando apenas relevo à função mais "observadora" do estado, quase como que o estado seja apenas o garante de que "os homens não se matem uns aos outros".

De resto, é importante que existam ricos e pobres, classes e de outras tantas coisas tão similares ao capitalismo.

Do que escrevi até agora, parece claramente definida a posição do partido. Mas e o CDS-PP (a quem muitos chamam CDS do PP - Paulo Portas)?

Uma das bases da democracia cristã é o humanismo, os valores éticos, a distribuição da riqueza produzida pela economia (pelos trabalhadores imagine-se) e pelo principio da livre associação. Até que o estado deve estar ao serviço do Homem e não o Homem ao serviço do estado.

Para quem lê estas linhas, diria mesmo que este partido se existisse era merecedor do seu voto. Mas não existe...

O PP foi até agora um partido de elites, de meninos ricos a brincar à politica. Basta ver pelos anos de gestão de Paulo Portas, do "não me candidato" até ao "irrevogável". Ao tudo por tudo por um titulo politico ou por um cargo qualquer...  O "Partido do Táxi" passou em larga escala a ser o "Partido do Uber", mas não do Uber baratinho, daquele de luxo...

Entretanto, neste congresso elege-se Assunção Cristas, alguém a quem eu tenho o maior respeito e que considero uma pessoa extremamente profissional. Enquanto ministra raramente se ouviu falar dela, o que costuma ser bom sinal num país onde só se fala das pessoas quando fazem asneira.

Pode Cristas transformar o CDS do PP no CDS-PP? Diria que sim, se aproximar o partido ao centro e ao liberalismo (neo-liberalismo para alguns mais ofendidos) e deixar aquele conservadorismo bafiento...

Espera-se de um CDS-PP medidas que facilitem o desenvolvimento pessoal, o investimento das empresas e das pequenas empresas, de medidas que ajudem a família.

Mas acima de tudo que não volte a ser o partido dos submarinos, das muletas do PSD e do Paulinho das Feiras.

Também não concordo que uns trabalhem 35 horas e outros 40. Mas é preciso que as 40 horas de uns sejam tão rentáveis como as 40 de outros...

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Cavaquinhos só para tocar...

PORTUGAL COUNCIL OF STATE MEETING

Sou um gajo estranho e ainda acredito no Pai Natal... e que vivo num país que pode evoluir.

Ouvi ontem com atenção o presidente do PSD, na esperança que por uma vez acabasse por ouvir um presidente de uma nação que o elegeu democraticamente para representar todos os portugueses.

Mais uma vez acabei por ouvir um presidente que em duas frases deu cabo de todos os argumentos que poderia ter para tomar a decisão que ontem tomou. Da primeira, a de que existem partidos políticos que não podem ser eleitos ou fazer parte de um governo... tal frase é tão inconstitucional e antidemocrática que até faz tremer o Salgueiro Maia na cova. A segunda é de que é função do presidente dar contas as instituições financeiras...

Vamos tentar esclarecer isto... o Presidente tem unicamente que prestar contas a uma entidade, o eleitor, essa espécie energúmena que continua a insistir na ideia de levantar o cú do sofá ao domingo e ir lá colocar uma cruzinha num papelinho.
Esse eleitor que tem uma mente complexa e que tantos e tantos comentadores, políticos e jornalistas (e pseudo-estes-todos) tentam compreender. Entre os que dizem que a direita ganhou porque o eleitorado confia no actual PM, os que dizem que a esquerda ganhou porque somados os votos são os que tem mais... e os que dizem que ninguém ganhou.

Friamente (e aviso já que não gosto do Portas) quem ganhou as eleições foi a abstenção, e essa devia ser a primeira mensagem que TODOS os partidos deviam ler, a de que não estão a fazer um bom trabalho e que as pessoas acham que nem vale a pena exercer um direito conquistado numa revolução contra um regime autoritário porque é tudo a mesma coisa. Depois, em tantos comentadores e profissionais da TV, todos eles estão formatados a um pensamento da europa do Sul, que vê as eleições desde sempre como um jogo de bola onde há um vencedor e um vencido. Falam de programas eleitorais e de que o eleitor escolheu este ou aquele... ULTIMA HORA... 90% dos eleitores nunca leu ou viu um programa eleitoral na sua vida.

As eleições não elegem primeiros-ministros e ninguém vota para um primeiro-ministro. As eleições servem para eleger deputados a uma assembleia e aquilo que o eleitor deve esperar é que sejam capazes de entendimentos para o superior interesse do país e não a criação de um enclave partidário de facilitismos para os jotinhas e para os amigos do partido (e isto existe desde 1975 em ambos os partidos). A justificação do presidente de que sempre foi assim que se fez, que o partido com mais votos vê o seu líder indigitado acontece porque o temerário eleitor nunca fez o que fez agora... pôs a cruz noutro sitio e não nas maiorias. A pergunta que se coloca é... se o Bloco, o PCP, ou um PNR tivessem mais votos do que PS ou PSD o presidente teria o mesmo comportamento? Nomearia um nacionalista radical ou um comunista convicto para Primeiro Ministro só porque sempre assim foi?

Sejamos realistas... nos países nórdicos temos 12 e mais forças politicas com assentos parlamentares e é um conjunto de deputados que no seu entendimento que criam soluções de governo. É para isso que o eleitor vota, para que um deputado (ainda mais com a farsa dos círculos eleitorais) eleito pelo seu voto possa defender os seus valores e implementar as suas ideias. Se isso tem que representar um entendimento e efectuar cedências, então que o seja, desde que essas não venham ferir de morte os seus valores principais.

Para fechar... o Paulo Portas (eu avisei que não gosto do homem) criticar o António Costa por querer chegar ao poder é da maior demagogia que existe. Foi ele o responsável por uma crise que custou milhões ao país e que abanou a solidez da sua própria coligação apenas por um lugar de vice...


Acho que perdemos ontem a oportunidade de nos tornarmos politicamente mais evoluídos, capazes de perceber que a solidez governativa não é a maioria pensar como nós... é a maioria ter capacidade para ter as suas próprias ideias. Durante 4 anos a coligação PSD/CDS teve as suas próprias ideias porque a soma dos seus deputados (coligados DEPOIS das eleições) lhe deu esse direito. Ainda que o seu programa fosse muito diferente do que tinham apresentado... tinham esse direito. Acima de tudo... mais do que inconformado com a atitude de um homem que se diz Presidente de todos os portugueses, fiquei triste com o meu país...